quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Uma verdade incontestável


Madrugada dessas, a famigerada 'zapeada' me colocou de frente para o irresistível: o filme "Um Sonho de Liberdade" (a foto ao lado é a da capa do DVD). É o filme que mais gosto e, como normalmente faço quando aquilo que não consigo resistir aparece, não resisti. Adoro ver, ler e ouvir novamente coisas que me agradam. Para mim funciona como se eu fosse ouvir, ler ou ver algo novo naquilo que se repete aos meus olhos ou ouvidos. Vez por outra isso de fato acontece...e, quando acontece,... pois bem...aqui estou, né...pra contar.

Lá 'pelas tantas' do filme, o personagem principal (um banqueiro preso injustamente, acusado de ter assassinado a mulher), à altura já meio que um 'líder intelectual' dos presidiários, está na sala onde funcionam os auto-falantes da penitenciária. O guarda que toma conta dele vai ao banheiro e, sem titubear, o protagonista põe uma ópera no sistema de som para que os companheiros, que tomavam banho de sol, ouvirem junto com ele. Tranca a porta do banheiro por fora, coloca fones no ouvido e só sai de lá carregado, direto para a solitária. Antes disso, aparecem na tela os rostos dos presos, incrédulos, inebriados, hipnotizados pela beleza do som que não ouviam há tempos.

Quando volta ao convívio dos colegas, além dos agradecimentos naturais, ouve um "dessa vez você passou um tempão na solitária hein...." Eis a resposta: "Sim, é verdade. Mas eu não estava sozinho. Mozart, Bach, Bethoven, todos me fizeram companhia. Estavam dentro de mim. Música é como nossos sonhos e nosso desejo de liberdade. Podem nos tirar tudo aqui dentro desses muros. Menos isso".

O belo discurso foi o que me tocou mais nesse filme dessa vez. Não encontro exatamente as palavras certas para descrever o quanto acredito no que disse "Andy Dufresne", o protagonista, interpretado por Tim Robins, mas afirmo, sem medo algum de errar, que não há um só momento da minha vida sem uma música, duas, ou uma trilha sonora inteira. Por amostragem e já ciente do quanto vou me martirizar por não colocar 'esta ou aquela' música, uma lista rápida: "Metal contra as nuvens" (e nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz...), "Condicional" (e alguma coisa a gente tem que amar, mas o que eu não sei mais), Stay (a música que mais ouvi repetidamente, não coloco quantas vezes pq NINGUÉM acreditaria), Don't look back in anger (Não olhar para trás com raiva, ódio, etc, é NECESSÁRIO e saudável. E só olho para trás com 'a saudade que gosto de ter' da lembrança dessa música), Disneylândia (Um 'lado B' imperdível dos Titãs sobre...ah...vá lá...globalização), Por você (eu faria aquilo tudo mesmo e muito mais, não tenha a menor dúvida!), Sweet child o'mine (O SOLO, a letra nostálgica...), Vilarejo (Eu quero morar nessa música), Perfeita simetria (teu maior defeito talvez seja a perfeição)...enfim..pouco importa quantas e quais estão ou deveriam estar aqui nessa listinha, até porque é particular ao extremo e daqui a um centésimo de segundo ela não seria a mesma caso eu a tentasse fazer novamente.

Acredito realmente que algumas coisas nada nem ninguém nos tira. Sentimentos e sensações, atuais ou não, até porque não devemos 'satisfação' ao que outrora nos agradou e hoje não mais. Valeu naquele dia, minuto. Então valeu! Voltando à música, por mais que os males do corpo, da alma e do ser humano alheio nos adoeçam, irritem, revoltem, eu a vejo, além de obviamente como diversão (é solução SIM), como uma espécie de fuga para um lugar, dia, momento, etc...que está registrado daquela forma apenas na NOSSA lembrança por mais que esta inclua outras pessoas. E não é só a letra, senão esse texto seria sobre poesia. O som em si, que nos faz 'cantar' o que não sabemos, dançar, sentir 'a vibe', ter a sensação de que os graves 'batem dentro de você na pista'...essas apresentam um outro 'milagre': encantam por 'só serem...existirem'.

Música é a liberdade que teremos para sempre dentro de nós. E ser livre, como já cantou alguém, 'ser livre é coisa muito séria'. Fotografia é o instantâneo que não se repete (dá-lhe RL!). E a música é a viagem que faz o instantâneo se repetir dentro de nós.